domingo, 19 de abril de 2015

Ao mestre com carinho

Revista made in japan 132 - Setembro de 2008
Reportagem Erika Omori
A vida de Kenji Ono se confunde com a própria evolução do Aikido, uma arte marcial japonesa que significa “Caminho (Do) da harmonia (Aiki)”. Imigrante japonês que chegou ao Brasil com 9 anos, ele, ao lado de seu mestre, Kawai Sensei, são considerados os principais pioneiros do Aikido no país. Sua trajetória está retratada na exposição O Aikido em sua essência, organizada pelo fotógrafo Ricardo Miyajima, também aluno de Ono Sensei, como é carinhosamente chamado. Hoje aos 82 anos e recuperando-se de uma pneumonia que o levou a uma internação hospitalar, o mestre recebeu a reportagem de Made in Japan em sua academia (Dojo) na Aclimação, em São Paulo. A conversa transcorreu em um ambiente familiar com a presença de alguns alunos e de sua segunda esposa, Dayse. O clima descontraído foi complementado com uma grata surpresa: a presença do mestre Kawai, que foi visitar seu aluno mais antigo. Entre xícaras de chá verde e biscoito japonês (sembei), mestres e alunos relembraram a trajetória de Ono. A entrevista não poderia começar de outra forma senão pelas lembranças do primeiro contato com o Aikido, quando tinha 37 anos. Há muitos anos ele queria praticar a arte marcial, mas não havia nenhuma academia no Brasil. Ele recorda que foi o 6º aluno a se matricular no primeiro Dojo em terras brasileiras, criado por Kawai Sensei, em 1963. Logo na primeira aula, o aluno foi conversar com o mestre que lhe aplicou um golpe. “Caí e me apaixonei! Mas como doia!”, relembra aos risos. Assim começava a trajetória de Kenji Ono, hoje Shihan (Mestre) e detentor de uma das maiores graduações do Brasil: 7º Dan. O tempo escasso e a distância do Dojo o obrigaram a treinar apenas nas manhãs de sábado, pois durante a semana trabalhava em uma oficina de niquelação. Aos poucos convenceu seu mestre a lhe dar aulas nas tardes e noites de sábado, além de domingo. A dedicarão era tamanha que, em 1965, Ono já ajudava seu mestre nas aulas. “Como eu não era tão novo e sonhava há anos praticar Aikido, fazia as aulas com dedicação e vontade”, explica. Em seus treinamentos, assim como nas aulas que ministrava, Ono Sensei constatou que os alunos brasileiros tinham pouca flexibilidade, devido à alimentação salgada e rica em carne, aliada ao estilo de vida. Ao comentar a observação a Kawai Sensei, este lhe pediu que criasse uma série de exercícios para esses alunos. Nascia então uma nova técnica, criada a partir do Setai jutsu (realinhamento corporal), que é utilizada até hoje, antes da prática dos exercícios.
Além de ensinar Aikido, Kawai Sensei também transmitiu seus conhecimentos em Shiatsu e Acupuntura, profissões que Ono abraçou e exerce até hoje. “Kawai Sensei é meu mestre de vida, de Aikido e da minha família”, declara. “Se ele não tivesse me ensinado Aikido, Shiatsu e Acupuntura, não teria como sustentar minha família”. Em 1967, quando recebeu o 3º Dan, ganhou de seu mestre a academia localizada na rua das Carmelitas, em São Paulo, dando início à sua primeira turma de alunos. Um deles, Mitsuo Narahashi, o acompanha há 41 anos. Mais que títulos e graduações, o mestre fala de seu maior orgulho: formar novos mestres. “Eu fico feliz quando eles começam a ensinar, ou abrem academias”, diz. Ele já perdeu a conta de quantos alunos já passaram por seus treinos, mas, sem dúvida, é considerado, ao lado de Kawai Sensei, o principal formador de praticantes de Aikido no Brasil. E, apesar da idade, ele continua na ativa. Em 2006, aos 80 anos, após um médico lhe garantir que o faria sentar novamente na posição Seiza (sobre as pernas), o Sensei aceitou fazer a cirurgia para colocar uma prótese de titânio no fêmur. No mesmo ano, voltou a dar aulas.
Fonte: https://osprimeirosdiasdalei.wordpress.com/2015/04/18/ao-mestre-com-carinho/