sexta-feira, 28 de outubro de 2011

João Pessoa recebe até o domingo seminário internacional de aikidô

Sensei argentino é o convidado deste sábado para apresentações na praia do Bessa. Amanhã acontecem exames para novos faixas pretas do esporte

Por Larissa KerenJoão Pessoa


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Aikidô (Foto: Larissa Keren)
Edgardo Novelino ensina as técnicas do aikidô
(Foto: Larissa Keren)

    Arte marcial criada e desenvolvida no Japão, o aikidô tem como objetivos a auto defesa e a saúde de seus atletas. Neste final de semana a cidade de João Pessoa sedia o 3º Seminário Internacional de Aikidô. O evento conta com a presença do sensei argentino faixa preta do 6º dan Edgardo Novelino, que foi aluno do mestre Reishin Kawai responsável pela introdução da arte no Brasil, e está sendo realizado no colégio Master Bessa. No domingo vai ocorrer também o 1º Exame Para Faixas Pretas, no mesmo local.
    Segundo o Sensei Edgardo, a importância do seminário é a troca de conhecimento entre ele e os praticantes do aikidô dos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte que estiveram presente.
   - A finalidade deste encontro é trocar experiências. É convocar pessoas diferentes para compartilhar e transmitir seus conhecimentos no aikidô – declarou.
     O aikidô pode ser praticado por crianças a partir dos seis anos de idade e não existe idade limite para parar de praticar o esporte. Existe casos de pessoa com mais de 80 anos que ainda estão treinando. Um atleta leva em média sete anos para se chegar a faixa preta.
    A arte também tem se popularizado entre as mulheres, pois exige menos contato físico e não é preciso muita força para praticá-lo. Segundo a faixa preta Cristina Cuono, o que mais lhe chamou atenção para o esporte foi o respeito aos limites pregado pelo aikidô.
  - Sempre gostei de artes marciais, mas tinbha medo de praticar porque muitas são violentas. Então eu conheci o aikidô que respeita os nossos limites, que prega a paz e não é de forma nenhuma violento. Me apaixonei e faz 12 anos que treino.
Diferente das outras artes marciais no aikidô não existe competições. De acordo com o Edgardo, o princípio da competição fere a proposta da arte que é transmitir paz a seus praticantes.
  - Não precisamos machucar alguém para mostrar nossos conhecimentos e isso acontece nas competições. Quem assiste ao um evento de aikidô vai ver que os atletas saem do tatame se nenhum machucado. Você tem que vencer a si mesmo e não ao outros. Nós procuramos mudar a consciência das pessoas para transmitir paz - disse.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Treino Extra : Sábado pela manhã

O aikido Potiguar  vem convidar os aikidocas a participarem de um treino extra no sábado pela manhã.

O treino  tem como objetivo a prática e o estudo de rolamentos , Taisabaki e Ashi no sabaki.


Horário:  Tem duração de 1h e 30 min , começando as 08:30 h ( manhã ) do sábado dia 24/09/2011

Destina-se a :   Todos aikidocas que queriam praticar;
                          O treino será focado para 6°,5°,4° Kyû

Local:   Av. Hermes da fonseca,1017-Tirol-Natal/RN ; Fone: (84) 3211.4412
              No dojo de aikido.

Sensei responsavel: Sensei Israel


Obrigado !!
           No 

Budô: o segredo da filosofia oriental

Conheça o pensamento que inspirou todas as artes marciais japonesas atuais, como Aikidô, Judô, Jukendô, Karatê, Kendô e Sumô

por Camila Taira 22.12.2010

“Todas as coisas possuem uma essência divina interior e uma maravilhosa função exterior. A essência de uma árvore manifesta-se em suas flores maravilhosas e na sua folhagem abundante. A essência da árvore não poderia ser percebida se não houvesse flores e folhas. Os seres humanos possuem uma essência divina interior que não pode ser vista, mas que se manifesta com as maravilhosas técnicas do budô”.

Heiho Jikansho da Escola de Shintô Kajima 
(Trecho extraído do livro Segredos do Budô, de John Stevens)

   Conta-se na mitologia japonesa que existe um demônio repressor, chamado Shoki, que age de maneira muito dinâmica, pronto para subverter um oponente. Há também um duende das águas, o Kappa, que assume uma posição natural e descontraída. Assim que surge uma oportunidade na defesa do adversário, o Kappa entra em ação. Essa capacidade de assumir as duas posturas, ataque e defesa, de acordo com as circunstâncias pode ser chamada, atualmente, de Budô, filosofia que inspirou todas as artes marciais japonesas atuais, como Aikidô, Judô, Jukendô, Karatê, Kendô, Kyudô, Naguinata, Shorinji-kempo e Sumô. Formada pelos ideogramas “bu”, que significa “guerreiro”, e “do”, que significa “caminho”, essa filosofia tem forte influência do zen-budismo, uma vez que estipula como meta final a iluminação do ser.
   Portanto, pode-se dizer que a prática do Budô vai muito além das lutas nos tatami. Ela é a bússola para o caminho espiritual do budoka, praticantes dessa arte. Aos olhos de todas as artes marciais japonesas modernas, o Budô é compreendido como a relação entre a ética e a cultura japonesas. Não desanimar diante das adversidades, mas sim aprender com os desafios, ser disciplinado e respeitar o oponente são alguns dos ensinamentos do Budô.
   Os grandes budokas dizem que é com o espírito em harmonia que a pessoa criará uma percepção para agir com energia e coragem a diversas situações que a vida lhe apresentar. “A missão do Budô é fazer com que cada praticante, por meio das boas maneiras, se torne um cidadão melhor para a sociedade”, acredita Fuminori Nakiri, 51, presidente do Budo Gakkai, instituição japonesa que pesquisa essa filosofia.
Pensando assim, não só um praticante de artes marciais, como qualquer pessoa pode utilizar os ensinamentos do Budô para controlar suas emoções e impulsos, tornando-se assim, um verdadeiro guerreiro iluminado.

História


   O Budô foi uma derivação do antigo bujutsu, conjunto de disciplinas que eram colocadas em prática nas batalhas durante o período Sengoku-jidai, que durou cerca de 150 anos, entre a metade do século 15 e início do século 17. “No Sengoku-jidai, os samurais lutavam por sobrevivência. As técnicas começaram a ser valorizadas só no Período Edo”, explica Masaru Kanzaki, mestre de Kobudo, a arte dos samurais, a mais antiga arte marcial japonesa.

   Ao contrário do conturbado período de guerras do Sengoku-jidai, o período Edo (1603 - 1867), também conhecido como Período Tokugawa, foi marcado pela paz no arquipélago. Com o fim das guerras, as técnicas de lutas que os guerreiros travavam foram ensinadas às pessoas comuns. Criou-se, então, um código oral em que o “espírito da esgrima” (ken-no-kokoro), considerado a base do Bushidô (caminho do samurai), foi transmitido para os praticantes. E como não havia um inimigo, as lutas ganharam características de competição. Para que o caráter competitivo não tomasse conta dos treinamentos, o Budô foi introduzido para ser o caminho espiritual por meio do qual o praticante das lutas de artes marciais atingiria a iluminação. Pode-se então dizer que os objetivos do Budô estão intimamente ligados ao objetivo definitivo da filosofia Zen, que consiste na eliminação do ego, dos preconceitos e ilusões criadas pela mente humana, apegada aos prazeres da Terra.
   Durante o Período Edo, surgiram centenas de escolas e modalidades de bujutsu (práticas de combate) com diferentes técnicas, definições e métodos. Essas novas lutas se caracterizaram nas atuais artes marciais japonesas que tem como fonte principal o Budô.
   Quem bebeu dessa fonte e se tornou um dos símbolos do ideal budoka foi o samurai Miyamoto Musashi. Depois de muitas lutas vencidas, o guerreiro percebeu que o objetivo das artes marciais ia além da técnica e da aniquilação do adversário. É, então que ele entende a filosofia do Budô.
Assim como a técnica requer prática, para um budoka atingir suas metas, ele precisa praticar incessantemente as premissas do Budô. Aliada à prática, o estudo teórico também é importante para atingir a serenidade diante das situações complicadas da vida.

O que um guerreiro deve seguir

   A fim de conservar os princípios básicos do Budô, a Associação Japonesa de Budô decidiu escrever, em 1987, uma Carta do Budô, em que estabelece alguns ‘mandamentos’ para a prática:

1. Por meio do treino mental e físico é possível formar o caráter do budoka, de modo a tornar um indivíduo disciplinado e de bem;
2. Agir com cortesia e respeito durante o treino e desenvolver o equilíbrio entre o corpo, a mente e a técnica. Evitar a tentação de perseguir apenas a técnica de luta corporal;
3. Ter a humildade e autocontrole durante uma competição ou formas definidas de combate (kata);
4. Demonstrar respeito e cortesia no dojô;
5. Os professores devem encorajar a evolução dos seus alunos e não devem dar ênfase somente às competições ou habilidade técnica;
6. As pessoas que promovem o Budô devem  ter mente aberta para compreender os valores tradicionais japoneses. Elas devem desenvolver pesquisas e metodologias de ensino para a sua divulgação;
7. Não importa quão rápido seja o movimento, este deve emanar de uma essência calma e silenciosa;
8. A adversidade não faz esmorecer um praticante do budô, ajuda-o a florescer;

O que o guerreiro deve evitar

- insolência
- confiança excessiva
- ganância
- raiva
- medo
- dúvida
- suspeita
- hesitação
- desprezo
- vaidade

   Os dez males aos quais um budoka não deve se entregar, segundo um manuscrito da Escola de Kashima Shin (retirado do livro Segredos do Budô, organizado por John Stevens. Editora Cultrix, 11ª edição)

Budô na educação japonesa

   A meca do Budô é o Nippon Budokan, entidade que congrega todas as artes marciais do Japão e fica localizada no atual parque de Kitanomaru, onde se localizava o castelo de Edo. Inaugurado em 1964, a obra foi construída a partir da contribuição do governo e do povo japonês e tinha como objetivo primordial ser um local de competições e de ensino do Budô.
   Atualmente, uma das maiores preocupações dos mestres é a conservação dos verdadeiros princípios do Budô. A partir de 2012, a filosofia será introduzida na disciplina de educação física do curso ginasial como matéria obrigatória, mas até lá os principais mestres japoneses querem viajar o mundo todo para divulgar o “caminho espiritual” e não deixar com que as artes marciais resumam-se apenas à prática competitiva.
   Em novembro de 2009, uma comitiva com 76 ícones das artes marciais do Japão veio ao Brasil falar mais sobre o Budô. “É muito importante para nós divulgar as artes marciais no Brasil, porque no Japão, os jovens estão mais interessados em praticar beisebol do que aprender lutas japonesas”, considerou Hikaru Matsunaga, presidente da Nippon Budokan.

Entrevista - Fuminori Nakiri

O mestre Fuminori Nakiri
   Na infância, um taco de beisebol lhe chamava mais a atenção do que um hakama (calça larga e frisada) ou um bogu (armadura). Mesmo assim, Fuminori Nakiri resolveu aprender kendo. E não se arrependeu pelo caminho que escolheu. Hoje, dos 51 anos que tem, 38 foram dedicados à arte marcial. O Budô foi a essência tanto da evolução da técnica, quanto da espiritual. Presidente da Budo Gakkai, instituição que foi criada em 1968 a pedido da sociedade japonesa, sensei Nakiri considera que o Budô pode auxiliar mesmo as pessoas que não praticam artes marciais.

Made In Japan - Há quanto tempo você treina kendô e por que se interessou por essa arte marcial?
Fuminori Nakiri - Comecei aos 13 anos, porque quando criança eu era muito fraco, muito covarde. Mas eu queria ter mais força, mais confiança em mim. Eu gostava muito mais de beisebol, do que de kendô, mas foi o kendô que me deu auto-confiança.

MJ - Qual a importância do Budô para os ocidentais?
F.N. - Primeiro seria a diferença entre Budô e esporte. O Budô é uma arte tradicional do Japão e que dá mais importância a constituição espiritual das pessoas. Diferente do esporte que é somente lutar e jogar. O kendô era chamado de luta durante a guerra. No período Edo, o Japão já estava no período de paz, e no mundo dos samurais, eles sempre treinavam em função da guerra, esperando que fosse ocorrer um combate. Em época de paz, como não há essa ansiedade, ficou somente como um treino. Ficou então só como uma prática para o corpo. Por isso é importante lembrar que não é só a parte da técnica, mas também a constituição do espírito.

MJ - Como o Budô lhe ajuda no cotidiano?
F.N. - A prática do Budô, que é o comportamento, o respeito ao outro, isso é muito importante dentro das artes marciais. O Budô é o comportamento, o espírito e a alma. Eu transmito esse conhecimento que tenho para os meus alunos e falo principalmente sobre a educação que desperta no sofrimento. Ele fortalece o próprio espírito e dá confiança às pessoas. Com isso você vai produzindo o comportamento humano e vai educando a sociedade para o futuro.

Esta reportagem foi publicada originalmente na revista Made in Japan 137, de fevereiro de 2009

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Espírito do Aikidô: Aprendendo, Sentindo e Transmitindo a Essência

Por Kanshu Sunadomari - Sensei da Cidade de Kumamoto, Kyushu e Autor do Livro A Iluminação através do Aikidô.

Uma vida de treinamento: Perseguindo Técnicas que tocam o coração do nosso parceiro

O seguinte texto é formado por instruções dadas por Sunadomari sensei no 351o seminário de faixas – pretas, em 23 de janeiro de 2005, na cidade de Kumamoto, Japão.

A pratica do Taisabaki (o desvio do corpo)

Em casos onde o nosso parceiro nos ataca de uma distancia, taisabaki é da maior importância. Sem ser capaz de rodar ou virar o corpo adequadamente é impossível absorver o ataque e você vai inevitavelmente entrar em conflito com o atacante. Virar e rodar os quadris é extremamente importante. È mais essencial conectar harmoniosamente com o atacante do que tentar derruba-lo. Ao liberar força, com a tensão do corpo e virando nossos quadris nós podemos nos esquivar de um ataque. Através da pratica desse tipo de taisabaki, nós podemos continuar a treinar e a executar técnicas por toda a nossa vida até quando estivermos na velhice.

O esforço em desenvolver técnicas que transportam o seu espírito

Nós devemos desenvolver técnicas que incorporem e expressem nossos espíritos. Quando envelhecemos, técnicas que não transmitem o espírito através do corpo físico não possuem significado algum. Pregar sobre o amor sem ser capaz de transmiti-lo á outros é infrutífero. Temos que alcançar um ponto em que consigamos manifestar fisicamente o espírito através do nosso corpo. Justamente o que o Fundador se referia em suas palavras “Aiki é amor” e “fazer com que o inimigo deixe de ser inimigo?”. Precisamos gastar uma quantidade significativa de tempo estudando como incorporar essas idéias em nossas técnicas.

O uso crescente da força física leva para a autodestruição

Taisabaki é mais importante quando lidamos com um ataque de uma certa distância. Em casos em que seu oponente estiver perto, você não deve apelar para a força física quando estiver sendo agarrado ou tocado. Fazer isso só cria conflito entre você e ele/ela. Se você for duro, você será derrotado no instante que o atacante fizer contato. Mantendo a intenção de confiar no atacante é essencial. Através desse estado de coração e mente é possível lidar com o seu oponente livremente. No instante em que você é tocado, deve segurar o parceiro conectando-se com ele. Você pode achar que se fizer isso contra um atacante agarrando com muita força você será parado. Ao contrário, contra atacantes hostis, as técnicas de Aiki Manseido vão arremessa-los com uma força proporcional á força que eles usam. Quanto mais força física alguém usar, maiores serão os danos provocados a ele mesmo. Esse é um jeito de manifestar o espírito através do corpo físico. Em tal Caminho, nós podemos demonstrar claramente para outras pessoas que contar com apenas força física levara a esse final. Eu sinto que é importante treinar Aikidô por toda a nossa vida com esse propósito em mente, de adicionar ao treinamento a melhora do espírito e manter a saúde.

O Corpo é um veiculo para o Espírito

Recentemente, incidentes de crimes violentos estão aumentando cada vez mais e mais, fato notado pelos jornais e no dia a dia. Eu interpreto isso como um sinal de que os corações de todos estão “murchando”. Uma “pessoa” é um espírito em um corpo físico. (Em japonês, “hito”, a palavra para pessoa, pode ser escrita com dois caracteres kanji que representam “espírito/alma”, “consertar”, “amarrar” ou “manter”). Durante nossas vidas, nossas aspirações e o propósito por trás de nossas ações nos formam e podem servir para elevar e melhorar nosso espírito ou nos tornar presas das tentações do mal.

Direcionando nossas Visões na Realização da Visão do Fundador de um “Paraíso na Terra”

Nós devemos treinar continuamente e transmitir para outros o Espírito do Aikidô que o Fundador deixou para nós. O Fundador disse que a missão do Aikidô é criar um Paraíso na Terra. Além do mais ele declara que “as artes marciais são um caminho em que nós cumprimos nossa missão divina de tornar o espírito do Universo nosso espírito e nutrir dentro de nós uma proteção amorosa por todas as coisas.” O espírito de proteção amorosa por tudo leva á um sentimento de Irmandade entre todas as pessoas na Terra. Não existem coisas tais como “inimigo” ou “aliado”. Através do treinamento com esse sentimento um mundo maravilhoso vai nascer.

A cada seminário, participantes se enfileiram e Sunadomari sensei permite que cada um agarre o seu pulso e sentir a sua técnica. Esse método nos permite sentir seu poder Kokyu e “pegar” a sensação do estado mente/espírito que ele desenvolveu como resultado de mais de sessenta anos de pratica. No instante em que alguém o agarra o poder de luta desaparece e uma energia igual á força do ataque retorna para você. Na fração de um segundo se tornar sensitivo e perceptivo o bastante para alcançar a essência do movimento do sensei Sunadomari é algo extremamente difícil de se conseguir.

Durante seu ultimo seminário, o sensei falou especificamente sobre “a importância de ter um propósito bem definido para nossas ações”. Previamente ele também mencionou “a importância de agir no momento enquanto se está em uma idade em que se pode mover livremente”. Como um membro da sociedade na casa dos vinte anos essas palavras tocaram –me profundamente. Para jovens adultos como eu, uma época em que iremos nos deparar com numerosos problemas sociais e em que devemos assumir o papel principal se aproxima. Com isso em mente, eu sinto que agora é a época de aprender da sabedoria e experiências dos nossos idosos e considerar profundamente nosso propósito e ir adiante em nossas vidas.

Bu (do) é amor. O verdadeiro Caminho marcial do Japão é um espírito de paz que luta para pacificar o conflito antes que ele se manifeste. Isso é (o caminho do) Aikidô. Em épocas passadas, o Caminho das artes marciais era uma ferramenta usada para matar e conquistar. Ainda quando tudo era dito e feito, tal Caminho era ‘desencaminhado’ e levava a autodestruição. Aikidô, no entanto, é (o Caminho da) harmonia, é a manifestação do vasto e fundamental universo. Sem a compreensão desse espírito é impossível haver progresso no Aikidô e (praticá-lo) não tem nenhum significado. Nutrindo essa compreensão, Aikidô também se torna um método de autodefesa e um regime de saúde e beleza.”

Palavras do Fundador, Morihei Ueshiba. Texto foi retirado de uma entrevista do Fundador em Maio 26, 1961 durante uma visita a Kumamoto

domingo, 28 de agosto de 2011

Aikidô e o Princípio da Mente Vazia – MUSHIN

 Por Marcus Vinicius Andrade Brasil.


Aquele que se aventura aos estudos das artes marciais, seja ela qual for, se depara, na maioria das vezes, com termos até então estranhos ao seu cotidiano. O próprio termo DO (caminho), termo presente no nome da maioria das artes japonesas – marciais ou não – como Kyudô, Karatê-Do, Judô, Shodô e também no Aikidô, além de indicar caminho, senda, é indicação de algo muito mais amplo, que seja, a própria vivência, a busca, o espírito incessante de se chegar próximo à perfeição naquilo que se propôs a fazer. É na realidade uma situação mais espiritual que física.

No Aikidô, dentre os termos usados tem um, em particular, que é pouco falado na sua literatura específica, mas bem difundido nos escritos Zen e sempre citado nas classes de Aikidô durante os treinos – O Mushin.

O Mushin, em sua etimologia, nasce da união de dois kanjis – Mu, vazio ou nulo e Shin, coração ou mente. Em tradução livre pode-se dizer que Mushin é mente vazia. Quem, em classes de Aikidô, nunca ouviu o Sensei falar em deixar a mente vazia?  Na maioria das vezes o mestre explica que se deve deixar a mente vazia, não pensar em nada (bem difícil para os ocidentais); não se ater a partes e ao mesmo tempo ver o todo. Explica ainda que se deve aguardar a ação do colega de mente vazia (não esperar nada de forma pré-estabelecida) e que em vista de tal atitude vem a facilidade na aplicação da técnica, pois o praticante não se atém a determinada forma e nem a determinada atuação do outro, fazendo o movimento fluir assim como os pensamentos, ou seja, deixa passar o ataque e adequar a defesa.

Mushin foi definido pelos estudiosos do Zen como um estado de consciência inconsciente ou de inconsciência consciente, o indivíduo está presente e ausente ao mesmo tempo. O vazio é o não apego, é a concentração no todo e não na parte, é o adequar-se, é, a grosso modo, o “fazer no automático”.

E como se chega ao Mushin? Como se chega ao ponto de fazer sem sentir o que faz? (Observe-se que não sentir o que se está fazendo não está ligado com a inconsciência pura, a consciência está adormecida, mas presente e sem interferir na ação). Como em todas as artes, é com o treino perseverante. Já disse em outras épocas o Guerreiro Espadachim Miyamoto Musashi: “tempere a si mesmo com mil dias de pratica e refine-se com dez mil dias de treinamento”.

Assim, partindo-se do pressuposto que não se deve, no Aikidô, separar a mente e corpo, e que o praticante deve estar integral na prática da arte, a percepção do Mushin vem a ser bem difícil.

Vê-se que o Mushin não pode se dissociar e passar para uma disciplina essencialmente mental ou essencialmente física. Não se pode atingir o Mushin através da razão pura e simples. No Mushin a mente não se prende a pensamentos, eles vêm e vão, a consciência passa a fluir livremente, de objeto a objeto, de sensação a sensação. Também não se deve controlar o corpo pela mente. O termo mente vazia determina que ela nunca está ocupada com uma determinada idéia, com concepção ou distinção, pelo contrário, por ela tudo passa e nada se fixa.

No Aikidô usamos o Mushin, e também podemos chegar ao Mushin através dele.  A fixação em pensamentos é uma tentação. Com o treinamento constante da arte do Aikidô podemos, com a prática, eliminar os pensamentos na aplicação das técnicas. O treinamento constante leva ao desprendimento e a simples atitude do fazer. É o “algo” que age, dogma difundido no Zen e no Cristianismo – “não sou eu que faço as obras, é o pai que as faz em mim; eu, de mim, nada posso fazer”. O treinamento constante da mente e do corpo leva o Aikidoca simplesmente a fazer o que deve ser feito e não conjecturar se deve fazer ou não.

No treinamento, cada ataque e cada defesa levam o praticante a se familiarizar com os movimentos e cada nova tentativa é uma chance de se não pensar em nada e agir. O praticante que fica a remoer uma técnica, seja bem ou mal aplicada e que poderia ter feito desta ou daquela forma, não está em conformidade com o Mushin. O Aikidoca que faz a movimentação de forma fraca e temerária vai levar esta fraqueza para a próxima tentativa; e se fez a movimentação de forma brilhante e objetiva também levará tal sensação para o próximo passo. De uma forma ou de outra será influenciado na aplicação da nova técnica que virá. Mas o Aikidoca que deixa a técnica, mal ou bem executada, de lado e parte para nova tentativa, livre de intenções e de definições, do início, e de mente limpa para a nova e única experiência, este sim, está no caminho do Mushin.

No Livro a Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen , o autor, Eugen Herrigel, descreve um estado que se observa, sem muito esforço, como sendo o Mushin:

Não se pensa em nada de definido, quando nada se projeta, deseja ou espera, e que não se aponta em nenhuma direção determinada… esse estado fundamental livre de intenção e do eu, é o que o mestre chama de espiritual

O Mushin “surge” quando o Aikidoca, que age, está separado do seu ato e os pensamentos não interferem no que ele faz. O ato (físico) inconsciente (mente) é o mais livre e descontraído de todos. Deixar a mente fluir, não se ater a partes ou pensamentos leva a respostas instintivas e prontas.

Na prática, quando se pensa em exibir perícia ou fazer uma bela apresentação diante dos mestres, o consciente do Aikidoca interfere no desempenho do físico e este vem a cometer erros. É necessário se eliminar da mente a sensação de que se está fazendo aquilo. A mente precisa mover-se entre as técnicas e suas passagens de forma que não se atenha nem nelas, nem na platéia e nem no colega que junto está na apresentação. No instante em que o Aikidoca está consciente do que está tentando, a fina força, fazer, o equilíbrio se desfaz e este simples momento de desarmonia interrompe o fluxo da movimentação. A atenção demasiada em algum ponto fará o Aikidoca se fixar naquilo que é apenas passageiro e assim travar o movimento.

O Mestre Zen Takuan Soho, em sua obra a Mente Liberta – Escritos de um Mestre Zen ao um Mestre de Espada – fala sobre o poder negativo de se prender a mente em um ponto.

“Se a pessoa situa sua mente na ação do corpo do oponente, sua mente será capturada pela ação do corpo do oponente”. 

Então, onde situar a mente? O próprio Takuan responde:

“Se não a situares em lugar nenhum, ela irá todas as partes do teu corpo e o preencherá inteiramente”.

E continua:

“Se tu te decidires por algum lugar e lá situares a mente, ela será capturada por este lugar e perderá sua função. Se a pessoa pensar, ela será capturada por seus pensamentos. Portanto, deixa de lado os pensamentos e a discriminação, lança a mente para fora do corpo inteiro e não a fixe nem aqui nem lá; então, quando ela visitar os vários lugares, ela realizará a função própria e agirá sem erro”

A mente presa é a uma das maiores armadilhas em que o artista marcial pode cair. Para não se prender nisso ou naquilo, em movimentos ou técnicas, em platéias ou no ego, além do treinamento árduo e a prática constante, há de se haver o desprendimento da mente na ação – O Mushin.

Por fim, observamos que o Mushin, além de importante princípio a ser seguido é atitude difícil de ser adquirida, é um princípio importante na prática marcial do Aikidô, mas, em contrapartida, atitude rara de ser observada. O treinamento constante, a prática reiterada das técnicas e o desprendimento na execução são formas de deixar a mente fluir e que podem levar ao Mushin. E você, já atingiu o Mushin?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HERRIGEL, Eugen – A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen – Tradução do Inglês para o Português por J. C. Ismael – Ed. 23ª, 2009 – Editora pensamento – São Paulo/SP.

HYAMS, Joe – O Zen nas Artes Marciais – Tradução do Inglês para o Português por Cláudio Giordano – Ed. 1ª, 1992 – Editora pensamento – São Paulo/SP.

KUSHNER, Kenneth – O Arqueiro Zen e a Arte de Viver – Tradução do Inglês para o Português por Paulo César de Oliveira – Ed. 2ª, 1992 – Editora Pensamento – São Paulo/SP.

SOHO, Takuan – A Mente Liberta – Escritos de um Mestre Zen a um Mestre da Espada – Tradução do Japonês para o Inglês por William Scott Wilson – Tradução do Inglês para o Português por Marcelo Brandão Cipolla – Ed. 1ª, 1998 – Editora Cultrix – São Pulo/SP.

* Marcus Vinicius Andrade Brasil é Advogado e graduado em Aikidô (Faixa-Preta 3º Grau – Sandan) pela Academia Central de Aikidô de Natal.

Colaboração: www.impressione.wordpress.com

sábado, 27 de agosto de 2011

O Aikido se expande na capital potiguar

Novo dojo de Aikido em Natal .

AABB : Av. Hermes da Fonseca, 1017 - Tirol - Natal / RN

Fone : (84) 3211-4412

Dias e horários de treino.
Terças, quintas e sextas, das 19h às 21h.

Aikido Potiguaronseca, 1017 - Tirol - Natal/RN
Fone.:(84) 3211.4412